anima real
"O perfume – o inebriante e indescritível casamento das essências de ervas, especiarias, capins selvagens e flores, cascas, animais e árvores – é um mecanismo criado pelo universo. Desde o primórdio dos tempos, as pessoas se deleitam em esfregar substâncias aromáticas em sua pele. Atemporais e universais, as essências sempre foram fortemente presentes em rituais, na medicina, nos mitos e nas conquistas. Os perfumes ajudam as pessoas a orar, a se curar, a fazer amor e guerra, a se preparar para a morte, a criar. Afinal, o significado de inspirar é, literalmente, deixar o ar entrar."
(Aftel, Mandy - Essência e Alquimia)
Anima Real é um projeto de bioprospecção de ativos aromáticos ao longo da Estrada Real, desde a Região de Diamantina até Paraty. Esse projeto está apto a captação de recursos de repartição de benefícios via Lei de Acesso à Biodiversidade 13123/15. Esse Percurso atravessa uma grande parte do Cerrado e Mata Atlântica, passando por regiões como o Vale do Jequitinhonha, Serra do Espinhaço e Serra da Bocaina.
“O perfume não era apenas um produto, mas sim uma maneira de se imergir no mundo que, por séculos, reteve uma aura de magia e mistério.”
(Aftel, Mandy – Essência e Alquimia)
Inspirados por esta citação, queremos propor uma velha rota a ser novamente traçada: a Estrada Real, o caminho do Ouro e Diamantes, desta vez sob o ponto de vista da biodiversidade, o Novo Ouro.
Até hoje, o Brasil pouco vem usufruindo de sua posição privilegiada em termos de detenção de biodiversidade. Isso fica evidente, por exemplo, no fato de que as pesquisas de bioprospecção orientada (a primeira etapa essencial à descoberta de novos ativos biológicos) ainda recebem muito pouco apoio no país, e, assim, não detemos uma parcela considerável da propriedade intelectual depositada relacionada à biodiversidade. O estudo de Yanai (2012) selecionou 13 espécies potencialmente econômicas da Amazônia brasileira e constatou que de 2000 até 2009 foram registrados 686 documentos de patentes, dos quais, 83,82% eram pertencentes a instituições estrangeiras.
No mundo antigo, as fragrâncias eram artigos refinados de luxo, altamente valorizados, e grandes rotas comerciais foram desenvolvidas, em parte, por causa da incansável busca por ingredientes para perfume. Caravanas e navios traziam itens das mais remotas civilizações: canela da África, nardo e cardamomo da Índia, gengibre, noz-moscada, açafrão e cravos da Indonésia. Como eram muito preciosos para serem comidos, esses materiais eram transformados em componentes de misturas aromáticas usadas em rituais religiosos, como remédios para condições físicas e para perfumar o corpo. Foi dito, com certa razão, que o mundo foi descoberto na aurora do perfume.
Existe hoje uma demanda mundial, e principalmente nos países megadiversos como o Brasil, por políticas que promovam o conhecimento, a conservação e o uso sustentável da biodiversidade, a repartição justa e equitativa dos benefícios provenientes da utilização dos recursos genéticos, a proteção dos direitos soberanos sobre recursos biológicos e o desenvolvimento de capacitação científica, técnica e institucional. Nesse contexto, a bioprospecção de novos ativos biológicos e a criação de produtos de alto valor agregado com base nesses ativos tem um caráter altamente estratégico, podendo, em última instância, gerar receita para competir com atividades econômicas insustentáveis. Existem exemplos de empresas brasileiras que repartiram nos últimos 10 anos mais de R$ 8,5 milhões em benefícios pelo acesso ao patrimônio genético. O presente projeto busca fornecer as bases para que mais empresas possam seguir caminho semelhante.
